Com etanol em queda, Jalles volta a elevar a aposta no açúcar

Produção bateu recorde no primeiro trimestre da safra e empresa vai construir nova fábrica

Com informações Info Money

Embora seja conhecida atualmente por liderar as exportações brasileiras de açúcar orgânico, a Jalles, maior empresa do segmento sucroalcooleiro da região Centro-Oeste do país, privilegiou o etanol em seu mix de produção nas últimas safra. No ciclo 2022/23 registrou resultados recorde graças a uma estratégia diferenciada de vendas do biocombustível.

De olho nesse mercado, fez uma aquisição de peso no ano passado, antes de a maré mudar e as margens de lucro do etanol começarem a derreter. Não surpreende, portanto, que a companhia tenha voltado a apostar no açúcar nesta temporada 2023/24, que começou em abril.

“No primeiro trimestre de 2022/23 [abril a junho de 2022], os preços do etanol estavam excepcionais, acima de R$ 4 o litro do hidratado. Vendemos a maior parte do volume que prevíamos para toda a safra para aproveitar o bom momento. No primeiro trimestre da safra atual, entretanto, o hidratado já havia caído para R$ 3. Mudamos o mix e a produção de açúcar em nossas usinas bateu recorde para o período”, afirmou Rodrigo Penna de Siqueira, CFO da Jalles, ao IM Business.

Rodrigo Penna de Siqueira, CFO da Jalles: para compensar a fase negativa para o etanol, a empresa da região Centro-Oeste do país volta a apostar no açúcar (Foto: Divulgação)

Em larga medida, graças à estratégia adotada para a comercialização de etanol, o lucro líquido da Jalles alcançou R$ 692,3 milhões no exercício 2022/23, 181,4% mais que em 2021/22. O lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda, na sigla em inglês) ajustado na safra passada cresceu 5,2% na comparação, para R$ 1,162 bilhão, e a receita líquida aumentou 14%, para R$ 1,708 bilhão. Com a aquisição das empresas mineiras Usina Santa Vitória e ERB MG Energia (rebatizada como Jalles Bionergia), um negócio de mais de R$ 700 milhões anunciado em maio de 2022, o cenário parecia ainda mais promissor.

Vieram, então, as mudanças tributárias promovidas pelo governo Bolsonaro, que tiraram competitividade do etanol hidratado em relação à gasolina nos postos e, já no governo Lula, a nova política de preços de combustíveis da Petrobras, que permitiu a queda dos preços da gasolina – graças a uma grande defasagem ante as cotações internacionais – e gerou novo desestímulo às vendas de etanol. O baque foi sentido pelo setor produtivo em geral, e para a Jalles não foi diferente.

Com a queda de preços, a companhia decidiu vender um volume 50% menor de etanol no primeiro trimestre desta safra 2023/24 na comparação com um ano antes, e os resultados recuaram. O lucro líquido alcançou R$ 49,5 milhões, 58,8% menos que em igual intervalo de 2022/23, o Ebitda ajustado caiu 16,7%, para R$ 271,4 milhões, e a receita líquida diminuiu 0,6%, para R$ 445,1 milhões. E o açúcar, em alta no ano nos mercados doméstico e externo, voltou a ser o destaque positivo.

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O volume de açúcar produzido nas usinas Jalles Machado e Otávio Lage, em Goianésia (município goiano onde está a sede da empresa) chegou a 128,8 mil toneladas, um aumento anual de 21,8%, e as vendas totais do produto cresceram 12,5%, para 88,6 mil toneladas. Embora as vendas tenham diminuído mais de 50%, a produção total de etanol também aumentou, 36,8%, e somou 144,7 mil metros cúbicos, já com a colaboração da oferta da Usina Santa Vitória, que até agora produz apenas o biocombustível.

“Na Jalles Machado e na Otávio Lage, estamos produzindo o máximo de açúcar possível. E, em junho, decidimos investir R$ 170 milhões em uma fábrica de açúcar VHP [bruto] na Santa Vitória, com capacidade para 150 mil toneladas por safra. Com isso, o açúcar deverá representar 52% do nosso mix de produção na safra 2024/25”, disse Siqueira. Na temporada 2022/23, o etanol respondeu por 55,9% do mix de processamento de cana.

Com investimentos orgânicos e a aquisição da Usina Santa Vitória, a capacidade de moagem da de cana da Jalles deverá chegar a 9 milhões de toneladas até o ciclo 2025/26, ante cerca de 7,5 milhões em 2023/24 e 5,3 milhões em 2022/23. Com margens de lucro maiores, o açúcar orgânico tende a ganhar espaço.

No primeiro trimestre da safra atual, a produção orgânica alcançou 30,1 mil toneladas, 93,6% mais que entre abril e junho do ano passado e a expectativa é que o volume continue aumentando, em linha com a mudança de mix. A produção de açúcar branco cresceu 6,7% na comparação entre os primeiros trimestres, para 93,2 mil toneladas, e a de açúcar VHP avançou 96%, para 5,5 mil toneladas.

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