Preço da carne faz consumo de ovo crescer e encarece o produto
Pente com 30 unidades sofreu uma elevação de 47% entre novembro de 2020 e abril de 2021
Com informações O Tempo
Com o preço alto da carne e a renda apertada por causa da crise econômica, as famílias brasileiras têm optado cada vez mais por ovos como opção proteica para as refeições.
Em 2020, em média, cada brasileiro consumiu 251 ovos – há dez anos, a média anual era de 148 para cada habitante. A alta do consumo foi de 70% no período.
Em Minas Gerais, Estado responsável por 9,12% da produção nacional de ovos, mais de 5 bilhões de unidades foram produzidas em 2020 – um crescimento de 6,15% em relação ao ano anterior. Porém, o setor não prevê um novo crescimento em 2021.
De acordo com o médico veterinário Gustavo Ribeiro Fonseca, integrante da Associação dos Avicultores de Minas Gerais (AVIMIG), além da demanda, há outros fatores que interferem na produção.
“Caso o custo de produção continue elevado, o produtor poderá optar pela diminuição do alojamento das aves, com isso diminuindo a produção de ovos”, afirma.
Estima-se que no Estado existam 340 granjas destinadas ao produto.
Conforme a lei da oferta e da procura, o preço do ovo, que já vinha subindo, poderá crescer ainda mais, especialmente se as empresas reduzirem a produção.
De acordo com levantamento do site Mercado Mineiro, o pente com 30 unidades teve uma elevação de 47% entre novembro de 2020 e abril de 2021. O preço médio é R$ 14,40 na região metropolitana de Belo Horizonte.
Assim como o crescimento da demanda, o custo da produção também foi fundamental para a elevação do preço. Ao longo da pandemia, os produtores tiveram de lidar com o crescimento nos valores dos insumos – especialmente das embalagens, do combustível e da ração.
Milho e farelo
Para se ter uma ideia do aumento dos custos, o saco de 60 kg de milho dobrou de preço, ao longo da pandemia, e hoje é vendido por cerca de R$ 100.
Já o farelo de soja, que também é usado na ração, subiu 56%. Esses aumentos não foram repassados para os consumidores. Dessa forma, estamos vendo produtores de ovos e frangos trabalhando no vermelho por meses seguidos”, diz Fonseca.
Substituição e impacto na mesa
Pesquisa realizada entre 2.000 famílias brasileiras, pela Universidade Livre de Berlim, na Alemanha, em parceria com a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e com a Universidade de Brasília (UnB), revelou que a maioria dos lares brasileiros passa por redução na qualidade ou quantidade de alimentos.
Quase 60% dos entrevistados demonstraram passar por algum grau de insegurança alimentar.
Houve redução no consumo de carnes e alimentos saudáveis, como verduras, legumes e frutas. Na pesquisa, apenas um alimento teve crescimento de consumo: o ovo.
Milene Pessoa, professora do Departamento de Nutrição da UFMG e uma das participantes do estudo, explica que as famílias não passam por perdas nutricionais com a substituição, pois o ovo é uma fonte de proteína de qualidade.
Mas tirar a carne do cardápio é uma mostra do imenso abismo social pelo qual o Brasil vive neste momento.