Ituiutaba prevê crise de escassez de oxigênio, aponta FNP
Com informações G1
Levantamento da Frente Nacional de Prefeitos obteve informações após questionar 2,5 mil prefeituras e receber respostas de 574 na quinta e sexta-feira, indicaram que o oxigênio para pacientes de Covid-19 está prestes a acabar.
Segundo reportagem do G1, publicada na sexta-feira (19), pelo menos 76 prefeituras responderam “SIM” à pergunta: “Seu município tem previsão de desabastecimento de oxigênio que poderá comprometer os serviços de saúde?” — e depois relataram as situações específicas.
Ao responder ao referido questionário, Ituiutaba deu a seguinte resposta: “Referente a previsão de desbastecimento de oxigênio, informamos que já está ocorrendo o desabestecimento do insumo em nossas unidades hospitalares, e para resolver tal problema estamos providenciando contrato emergencial com as fornecedoras do insumo para instalação de um tanque com 5.000m³, porém tal contratação ainda não foi finalizada por falta de recursos”.
Questionado, o Ministério da Saúde informou que realiza “monitoramento constante sobre a demanda de oxigênio medicinal nos estados e municípios brasileiros”.
De acordo com a pasta, Ministério da Saúde, Casa Civil e Ministério da Economia estão estimulando o aumento da produção nacional e a importação de cilindros para uso hospitalar. “Lotes iniciais de cilindros que foram obtidos por requisição, junto à indústria, serão repassados, já na próxima semana, a diversos estados e municípios”, informou o ministério.
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Por que pacientes com Covid precisam de oxigênio?
O coronavírus Sars-CoV-2, que causa a Covid-19, causa uma inflamação no pulmão. Isso faz com que ele não consiga mais transferir de forma eficaz o oxigênio que a pessoa respira para dentro do sangue e das células.
Quando isso acontece, a saturação de oxigênio – a concentração dele no sangue – começa a cair. O percentual normal de saturação fica entre 95% e 99%. Quando a pessoa não respira direito, esse índice começa a cair. A intubação, assim como outros métodos de aporte de oxigênio, ajudam a recuperar a saturação de oxigênio no sangue – por isso são tão importantes para pacientes com Covid.
“O aparelho de ventilação mantém as funções vitais enquanto a doença vai ser eliminada pelo sistema imunológico do paciente. Quem elimina o vírus são os anticorpos do paciente. Como ele precisa de até 15 dias para fazer isso, eu preciso manter o paciente sob esse oxigênio até 15 dias”, explica Carlos Carvalho, diretor da divisão de Pneumologia do Instituto do Coração (Incor) do Hospital das Clínicas da USP e responsável pela UTI respiratória do hospital.
“Se falta oxigênio para a máquina, falta oxigênio para o pulmão da pessoa. Não tendo oxigênio, as células não vão produzir energia e elas vão morrer. As células de todos os órgãos vitais vão morrer e o paciente vai a óbito”, afirma Carvalho.
Ele chama atenção para a situação dos pacientes que não estavam intubados.
“Você tinha 30, 40, 50, 60 pacientes usando oxigênio mas que não estavam intubados, e aí foi cortando o suplemento de oxigênio e eles começaram a piorar rapidamente. Vários morreram. Muitos pacientes que não iriam morrer – porque nesse grupo a mortalidade é de 25% – morreram em decorrência da falta do oxigênio”, afirma.
“Então, não tem muito espaço para essa discussão ‘ah, esse paciente ia morrer de qualquer jeito'”, explica Crestani Filho.
“Em uma das UTIs em que eu trabalho, por exemplo, temos dez pacientes recebendo oxigênio: dois intubados e oito em máscara de inalação. Todos esses morreriam em poucas horas se o oxigênio fosse suspenso. Essa que é a tragédia. Pacientes que sobreviveriam à Covid faleceriam – não pela Covid, e sim por asfixia, por falta de oxigênio”, afirma.
“Os intubados em geral precisam entre 50-100% [de aporte de oxigênio]. Esses suportam, no máximo, algumas horas sem oxigênio”, diz Crestani Filho.
“Ainda que o oxigênio volte, esse período deixará sequelas, e pode apenas retardar a morte – enquanto o paciente poderia sobreviver caso a oferta não tivesse sido parada”, afirma.