Triângulo Mineiro tem desafio de adaptar o agronegócio à mudanças climáticas

Com informações Jornal da Manhã

Situadas numa das principais áreas de produção agrícola no Brasil, as regiões do Triângulo Mineiro e do Alto Paranaíba encaram o desafio de se adaptar à ampliação da estação seca e a inundações cada vez mais frequentes, preservando o bioma do Cerrado sem prejudicar sua economia baseada no agronegócio. 

Essa preocupação permeou o sexto encontro regional do Seminário Técnico Crise Climática em Minas Gerais: Desafios na Convivência com a Seca e a Chuva Extrema, realizado pela Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) nesta segunda-feira (17/6/24), em Uberlândia (Triângulo Mineiro).

O objetivo do Seminário é buscar soluções capazes de minimizar, em Minas Gerais, os impactos das mudanças climáticas provocadas pela ação humana. Na próxima sexta-feira (21/6/24), o evento chega ao sétimo e último encontro regional, em Unaí (Noroeste), concluindo mais uma fase antes da etapa final, em agosto, em Belo Horizonte.

“Ano passado foi a pior estiagem dos últimos 33 anos no Brasil e essa região também sofreu e sofre com isso. Nós estamos preocupados com as pessoas mais vulneráveis, que são as que também mais sofrem, mas também com a produção, com o agronegócio, com o produtor que faz gerar emprego e renda para essa região”, explicou o presidente da Assembleia, deputado Tadeu Martins Leite (MDB).

Os especialistas convidados a traçar o diagnóstico climatológico da região apontaram a ampliação do período de estiagem como uma das tendências mais fortes. Se no passado a estação chuvosa começava em outubro, hoje ela tende, cada vez mais, a se iniciar apenas em novembro. E as chuvas que antes se distribuíam até março agora caem de forma cada vez mais concentrada, muitas vezes inundando vias públicas como a Avenida Rondon Pacheco, uma das principais de Uberlândia.

Esse cenário foi apontado tanto pelo professor da Universidade Federal de Uberlândia (UFU) e doutor em geografia Paulo Cezar Mendes, quanto pelo também doutor em geografia pela UFU Rildo Aparecido Costa. Ambos apontaram a tecnologia como uma arma que precisa ser reforçada na região para combater os perigos da crise climática.

Paulo Mendes mostrou que o Triângulo Mineiro, mesmo com sua importância agrícola, não tem um radar meteorológico. Segundo ele, o equipamento custaria entre R$ 4 e 5 milhões, mas se pagaria com a melhora das previsões climáticas.

“No Triângulo Mineiro, nós não temos como produzir dados sem um material como o radar meteorológico. Estações meteorológicas, nós temos pouquíssimas. No Pontal do Triângulo Mineiro, nós temos em torno de quatro estações meteorológicas para a região inteira”, complementou Rildo Costa.

A sugestão foi elogiada pelo presidente da Assembleia, que considerou a questão tecnológica como um dos pontos fundamentais que deverão ser detalhados no relatório final do Seminário. Ele ressaltou que são cerca de 60 instituições participando do trabalho, incluindo as universidades.

“Estamos aguardando esse relatório. Podemos aprimorar ou inovar na legislação e na fiscalização das políticas públicas, envolver os órgãos, o Governo do Estado, governo federal e todas essas instituições que estão participando”, declarou o deputado Tadeu Martins Leite.

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A tecnologia também foi apontada como um caminho para viabilizar o financiamento de políticas ambientais. Professor do Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia do Triângulo Mineiro, Fernando Caixeta Lisboa disse que o Brasil e a região do Triângulo tem um potencial enorme e inexplorado de negociação de créditos de carbono.

Segundo Lisboa, o Brasil emitiu, em 2022, 169,4 toneladas de dióxido de carbono, sendo que apenas Uberlândia emitiu 2,5 toneladas. O professor explicou que o Brasil e a região já implantaram diversas iniciativas para redução dessas emissões, mas quase não há políticas que viabilizem a remuneração desse serviço ambiental.

Ele apontou o município de Santa Vitória, no Pontal do Triângulo, como um dos pioneiros na implantação de um programa de pagamento por serviços ambientais, em 2023. 

A ampliação de experiências desse tipo depende, segundo ele, da conscientização dos agentes econômicos e do desenvolvimento de políticas e tecnologia. Uma das novidades que já estão sendo desenvolvidas são algoritmos de inteligência artificial para fazer o inventário das emissões de gases do efeito estufa, uma ferramenta útil para o ingresso no mercado de créditos de carbono.

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