Chico Bento completa 60 anos e Mauricio de Sousa conta bastidores de sua criação

Um dos personagens mais queridos da Turma da Mônica, que surgiu a partir de lembranças da infância do quadrinista, carrega até um toque mineiro

Com informações O Tempo

Chapéu de palha, camiseta amarela, calça azul rasgada e listrada, sem sapato. Seus olhos são castanhos, ele é meio dentucinho e tem cabelos negros. E mais do que isso: tem um jeitinho único de ser que cativa quem o conhece. “Ara, sô!”. Já descobriu de quem estamos falando? É ele mesmo: Chico Bento. Um dos personagens mais queridos das histórias em quadrinhos está completando 60 anos.

Inspirado na infância de Mauricio de Sousa e em um tio-avô do pai da Turma da Mônica, o caipirinha é a cara do Brasil.

“De certa maneira, o Chico Bento é o Mauricio criança. Eu vivia descalço, pescava e nadava em ribeirão, caçando rãs, subindo em pé de goiaba, roubando frutas. E com tudo isso eu fui meio influenciado. Bastava eu começar a pensar numa história para lembrar de alguma coisa que eu tinha passado, de alguma história que a minha avó contava… e assim foram surgindo as historinhas do Chico”, revela Mauricio de Sousa em entrevista exclusiva ao Magazine.

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O quadrinista diz que justamente por ter vivenciado muitas dessas aventuras quando menino, criar as histórias de Chico e sua turma fluem com muita naturalidade.

“Quando você vive uma coisa e está escrevendo sobre isso ou fazendo o desenho, a história sai sozinha. E é uma história recheada de realidade, mas também de sentimentos, de lembranças palpáveis.

O Chico Bento é um personagem vivo. É vivo porque eu vivi o Chico Bento que está nas histórias”, ressalta. E talvez esteja aí uma das explicações do sucesso do personagem, que encanta gerações desde 1961. Mauricio revela que sempre ficou intrigado com a maneira como Chico Bento é querido não só pelos pequenos, mas por gente grande. 

“Eu ficava me perguntando por que o Chico era muito comprado pelos adultos, e adultos que têm saudade da infância na roça que eles não tiveram. É uma vontade de ter uma infância igual à do Chico. Livre, no meio do mato, subindo nas árvores pra pegar fruta. Pra você ter ideia, o Chico Bento se tornou tão forte que ele sempre brigou com a Mônica em números de exemplares vendidos.

A Mônica é a que vende mais, mas de vez em quando o Chico Bento batia a Mônica”, comenta. Em seus primórdios, Chico Bento era publicado mensalmente numa página em formato tabloide da “Revista Coopercotia”, da Cooperativa Agrícola de Cotia, no interior de São Paulo. E nem era o protagonista das historinhas.

“O Chico, desde o início, sempre foi bem caipirinha, bem jeca. Aliás, acho até que o Jeca Tatu (personagem de Monteiro Lobato) me inspirou um pouquinho também. Então juntei tudo isso e criei o Chico com traços bem esquisitinhos, e depois fui arredondando as feições, e ele ficou mais bonitinho”, diverte-se Mauricio de Sousa.

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Censura

Foi só em 1982 que o personagem ganhou a sua própria revistinha. E o curioso é que Chico chegou a sofrer uma certa resistência no passado.

“Não chega a ser uma censura propriamente dita, mas um vereador do Rio Grande do Sul queria fazer uma campanha para proibir a fala do Chico Bento do jeito que ela é. E a coisa estava ficando séria. Mas teve uma reação, uma criançada do Rio de Janeiro fez uma passeata em favor do Chico pra ele manter o linguajar dele, pra eu não mudar nada, e, depois dessa passeata, aí acabou a campanha contra o Chico”, recorda. 

Assim como Mônica, Cebolinha e cia. limitada, Chico Bento também ganhou a sua versão adulta. Em 2013, Chico Moço foi lançado com traços no estilo mangá, mas sem deixar de lado o jeito sertanejo de ser. “Tivemos grandes tiragens com a Turma da Mônica Jovem, fez um grande sucesso, e depois começamos a fazer também com o Chico Bento. Tivemos que fazer algumas alterações para que ele não ficasse tão diferente do jeito dele criança. O lado roceiro, o jeito mais pueril, a brasilidade. O Chico é isso”, resume Mauricio de Sousa.

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Toque mineiro

Chico Bento tem um quê de mineiro. Isso porque Mauricio de Sousa cresceu em cidades do interior de São Paulo que fazem divisa com Minas Gerais.

“O Chico nasceu na intersecção entre São Paulo e Minas Gerais, no Sul de Minas, perto da serra da Mantiqueira. O pessoal que inspirou o sotaque caipirês é dessa região, então a gente pode dizer que o Chico Bento (e eu também) é um pouco mineiro (risos)”, afirma o quadrinista.

Meio ambiente

Mais do que nunca, Chico Bento é um personagem necessário. Por ter uma ligação muito forte com a natureza, ele foi nomeado a cargos importantes como embaixador da proteção das nascentes do Pantanal e embaixador oficial da ONG ambiental WWF-Brasil.

Em seis décadas de trajetória, ele segue reforçando a mensagem da preservação ambiental, atingindo crianças, jovens e adultos. Aliás, para celebrar os 60 anos de Chico, o caipirinha se uniu ao Urso Panda, seu parceiro e símbolo da organização não governamental, em uma tirinha exclusiva em que o aniversariante faz um pedido muito especial:

“Que a gente consiga fazer o meio ambiente ficar inteiro de novo”. “Essa ligação e preocupação dele com o meio ambiente sempre esteve presente nas histórias e cada vez mais vamos fazer e subir o tom nessa defesa. É algo muito importante”, frisa Mauricio de Sousa.

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