Sérgio Moreira fala sobre a atuação contra a Covid-19 em Santa Vitória
Médico explica o que já foi feito, o que será feito e o que não será feito
Segundo o médico Sérgio Moreira de Oliveira, diretor do Pronto Atendimento Municipal Jerônimo Teodoro, as medidas de enfrentamento se dividem em: PREPARAÇÃO, ASSISTÊNCIA e VIGILÂNCIA, portanto devem ser pautadas por: EVIDÊNCIA CIENTÍFICA, SENSIBILIDADE CLÍNICA, RESPEITO AO DINHEIRO PÚBLICO e TRANSPARÊNCIA. “É no equilíbrio entre a Ciência e a Gestão que se encontra a boa prática em Saúde Pública”, destacou.
Confira na íntegra o que disse o médico sobre as medidas implementadas em cada um dos três grupos:
PREPARAÇÃO:
Não é possível enfrentar nenhum desafio sem informação. Por esse motivo providenciamos, em março deste ano, quando havia ocorrido ainda 167 óbitos no Brasil, comparativo ao comportamento da curva de casos e óbitos dos países previamente acometidos pela pandemia do SARSCOV2.
Com base no comparativo, fizemos previsão aproximada de número de óbitos brasileiros por Covid-19 entre 80.000 e 120.000 e, ressalvadas as especificidades e imprevisibilidades de pequenos municípios, previsão de 8 a 12 óbitos por Covid-19 em Santa Vitória.
A previsão não é desejo ou expectativa concreta, mas um número, com vínculo na realidade, que ofereça base para provisionamento da equipe humana necessária, EPIs necessários, estruturas necessárias, medicamentos necessários, equipamentos necessários, exames complementares necessários, insumos e materiais necessários.
Após a previsão, elaboramos mais de 20 protocolos, versando sobre a estrutura física, EPIs, descontaminação de contato, proteção de disseminação por aerossóis, transporte de pacientes, rotinas de cuidados, anamnese, delimitação de gravidade de caso, de notificação de casos suspeitos, de exames complementares, de evolução clínica, de tratamento, de sedação, de cuidados intensivos, de cuidados paliativos, funerários, de suporte ventilatório, de vigilância epidemiológica, de limpeza, entre outros.
Antes que o primeiro caso fosse confirmado em nosso município, esses protocolos estavam prontos e em utilização.
ASSISTÊNCIA:
A assistência passa pelo acolhimento, atendimento médico, prestação de cuidados, tratamento e exames complementares.
Centralizamos o atendimento a todos os suspeitos de COVID-19, bem como de qualquer paciente com algum sintoma respiratório, mesmo que não apresentasse critérios clínicos para notificação da suspeita.
ATENÇÃO: em obediência a Portaria 356, ficam isolados por 14 dias todos os pacientes com sintomas respiratórios e seus contatos domiciliares, portanto, NEM TODAS AS PESSOAS EM ISOLAMENTO SOCIAL SÃO SUSPEITOS DE COVID-19.
Os médicos seguem um protocolo de anamnese que coleta obrigatoriamente as informações necessárias para o diagnóstico e detecção de sinais de alarme ou gravidade. Caso um desses sinais esteja presente, o paciente será examinado e serão solicitados exames complementares para definir o tratamento.
O EXAME COMPLEMENTAR É UM INSTRUMENTO A DISPOSIÇÃO DO MÉDICO PARA AUXÍLIO NO DIAGNÓSTICO E NA CONSTATAÇÃO DE PIORA OU MELHORA PARA FUNDAMENTAR A DECISÃO TERAPÊUTICA, NÃO SERVE PARA SANAR CURIOSIDADES, O EXAME OBRIGATORIAMENTE OBEDECE A INDICAÇÕES COM BASE CIENTÍFICA.
● Para os pacientes isolados por serem contatos assintomáticos ou para pacientes isolados com sintomas respiratórios sem critérios de notificação de suspeita de COVID-19 que não são contatos de pacientes confirmados por COVID-19, NÃO HÁ INDICAÇÃO DE NENHUM EXAME COMPLEMENTAR.
● Para os pacientes com sintomas respiratórios leves, mas com critério para notificação de suspeição para COVID-19, ou nos pacientes com sintomas leves insuficientes para notificação de suspeição de COVID-19 mas que são contatos de pacientes confirmados, A CONDUTA MÉDICA INDEPENDE DOS EXAMES COMPLEMENTARES, porém, pela utilidade epidemiológica de vigiar a evolução da curva da doença no município, esses pacientes são TODOS TESTADOS, desde a definição de transmissão comunitária no Brasil, da última semana de março em diante. Já que o teste não influencia na conduta médica ou em qualquer aspecto do cuidado com o paciente pelo baixo valor preditivo negativo deles, NÃO HÁ MOTIVOS na testagem precoce, pelo contrário, apesar dos testes sorológicos poderem ser realizados a partir do oitavo dia de sintoma, notamos maior sensibilidade após 14 dias do início dos sintomas, o dia, portanto, que o teste deve ser realizado. O isolamento e o tratamento já são indicados desde o primeiro dia e não vão mudar com o teste, logo, desperdiçar verba pública que poderia ser utilizada em outra função, apenas para sanar a curiosidade do médico, do paciente ou de quem quer que seja, em um país em desenvolvimento como o nosso, configura irresponsabilidade.
● Para os pacientes com sintomas respiratórios leves, mas com critério para notificação de suspeição para COVID-19, ou nos pacientes com sintomas leves insuficientes para notificação de suspeição de COVID-19 mas que são contatos de pacientes confirmados, A CONDUTA MÉDICA INDEPENDE DOS EXAMES COMPLEMENTARES, porém, se forem PROFISSIONAIS DA SAÚDE, PROFISSIONAIS DE SEGURANÇA PÚBLICA, PACIENTES INSTITUCIONALIZADOS OU CONTATOS DOMICILIARES DESTES, pelo risco de disseminação ampla e de desassistência ao município, são todos testados com todas as técnicas disponíveis. Inclusive, testamos com rotina determinada, todos os profissionais na assistência, mesmo sem nenhum sintoma, apenas para monitorar a contaminação dos profissionais.
● Para os pacientes COM SINAIS DE GRAVIDADE, TODOS SÃO TESTADOS com a técnica mais precoce possível, e não apenas são submetidos a teste de COVID-19, mas oferecemos 27 exames diferentes, que podem ser repetidos quantas vezes forem necessárias para a adequada assistência. (Ex. Um paciente permaneceu internado por mais de 20 dias e fez um total de mais de 200 – isso mesmo, duzentos – exames até estar bem e receber alta, recuperado com a graça de DEUS). Apesar de muito se atentar para a testagem para COVID-19, esses outros exames, muitas vezes contribuem muito mais para a assistência e para salvar a vida do paciente do que aquele.
Os testes podem ser feitos por duas técnicas principais: a pesquisa de RNA viral na secreção nasal (RT-PCR) e pela pesquisa de anticorpo no sangue nos Testes Rápidos ou sorológicos.
Nenhuma das técnicas pode ser feita com menos de três dias do início dos sintomas, pois vira resultado negativo, mesmo que o paciente esteja contaminado.
O RT-PCR deve ser coletado entre o terceiro e sétimo dia após o início dos sintomas, sendo o quinto dia o melhor dia para a coleta. Entretanto, muitas vezes o paciente liga após 7 dias do início dos sintomas e não pode mais realizar o teste, ou, pelo fato de o teste, mesmo no serviço privado, não poder ser colhido nos finais de semana, o paciente já estará fora do período de coleta possível após ser atendido. Lembrando ainda que esse material é enviado para Belo Horizonte e demora entre quatro e sete dias para o resultado ficar pronto, que somados aos 3-5 dias do início dos sintomas, mostra que o paciente teria acesso ao resultado do teste entre o sétimo e décimo quarto dia do início dos sintomas, período em que já seria possível a testagem pelo método sorológico que dá o resultado no mesmo dia.
Desde o início da epidemia, não faltou exame RT-PCR para nenhum paciente com indicação clínica de fazer, pois, a Gerência Regional de Saúde disponibilizou testes gratuitos realizados pela FUNED. Agora, há cerca de duas semanas, pelo aumento da demanda, começamos a notar a escassez do teste, e foi solicitada a compra desse tipo de teste para o município na rede privada, que já ocorreu e já se encontram a disposição para o uso.
Os testes rápidos foram adquiridos pelo município há vários meses, em compras escalonadas. Inicialmente, fizemos três compras de um total de cerca de 250 testes, que vêm sendo utilizados. Seguiu-se a compra de mais 600 testes antes de utilizarmos todos os primeiros adquiridos, e já há provisionamento na compra de mais para haver reserva futura.
A ciência muda constantemente, portanto, estamos fazendo um enorme esforço contínuo para acompanhar tudo e oferecer a vanguarda no que existe em termos de cuidado e assistência. Estamos abertos para ajuda e contribuições. E PEDIMOS ENCARECIDAMENTE APOIO PARA OS PACIENTES COM INDICAÇÃO MÉDICA DE ISOLAMENTO QUE SE MANTENHAM ISOLADOS E NÃO COLOQUEM AS OUTRAS PESSOAS EM RISCO, PORQUE É ISSO QUE TEM AFLIGIDO A EQUIPE DA ASSISTÊNCIA, NÃO OUTROS PROBLEMAS.